O que a COP29 trouxe de novo para o futuro das empresas?
A COP29, realizada entre 11 e 22 de novembro de 2024 em Baku, no Azerbaijão, foi palco de decisões importantes sobre o futuro do combate às mudanças climáticas. A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2024 apresentou grandes avanços, mas também deixou algumas pendências.
Dessa vez, a regulamentação do mercado global de carbono e um novo acordo de financiamento climático ganharam destaque, enquanto outros temas, como o uso de combustíveis fósseis, ficaram em segundo plano. Para as empresas, as novidades apontam caminhos para quem deseja alinhar estratégias a um mundo mais sustentável – e mais exigente em relação ao clima.
A seguir, confira os pontos principais da COP29 e como isso pode impactar o seu negócio nos próximos anos.
O mercado global de carbono, enfim, está saindo do papel
Depois de anos de debates, as regras para o mercado global de carbono foram ajustadas. Com isso, o Artigo 6 do Acordo de Paris vai finalmente começar a ser posto em prática, criando oportunidades tanto para países quanto para empresas.
O mercado de carbono é uma forma de negociar créditos de carbono, que representam a redução de emissões de gases de efeito estufa. Empresas e países podem comprar esses créditos para compensar suas próprias emissões. Mas há dois caminhos diferentes para isso:
1. Negociação entre países (Artigo 6.2)
Países que conseguem reduzir mais emissões do que o necessário podem vender esse “excedente” para outros que não atingiram suas metas climáticas. É como uma troca: quem está sobrando ajuda quem está precisando.
2. Mercado global (Artigo 6.4)
Aqui, entra a supervisão da ONU. Os países poderão adquirir créditos aprovados por um órgão responsável (e pelos países vendedores), o que criará abordagens padronizadas para a medida e produção de créditos. Trata-se de mais uma tentativa de incluir empresas no esforço global para reduzir emissões.
Contudo, para que isso funcione bem, a COP29 definiu regras claras para a comercialização e a supervisão desses créditos. A ideia é garantir que os projetos sejam confiáveis, com padrões altos de qualidade e responsabilidade social.
Por exemplo: caso essa metodologia seja aprovada pelo Supervisory Body Mechanism (SBM), órgão que vai implementar e definir as regras do mecanismo de mercado internacional, empresas brasileiras poderão aproveitar esse novo mercado para vender créditos gerados por usinas de energia renovável, como o Conjunto Eólico Trairi, da ENGIE.
Com as novas regras, esses projetos ganham ainda mais credibilidade internacional.
Financiamento climático é definido, mas não agrada a todos
Outro ponto importante da COP29 foi o novo acordo sobre financiamento climático. Do documento final, podemos citar três pontos de destaque:
A definição da nova meta de financiamento climático, a NCQG, que prevê US$ 300 bilhões anuais para apoiar países em desenvolvimento na redução de emissões e adaptação às mudanças climáticas;
A estruturação do mercado global de carbono;
A ausência de menções à eliminação do uso de combustíveis fósseis.
As negociações foram marcadas por desafios, como o impacto das eleições nos Estados Unidos e o fato de a conferência ter sido sediada em um país com forte produção de petróleo.
Os US$ 300 bilhões anuais devem ser investidos em iniciativas como:
Reduzir emissões de carbono, por exemplo, investindo em energia renovável;
Adaptar regiões vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas, como proteger cidades de enchentes ou apoiar comunidades agrícolas em períodos de seca;
Financiamento de soluções naturais, como reflorestamento.
Apesar de ser uma boa notícia, esse valor está longe do que realmente é necessário. Especialistas afirmam que seria preciso, no mínimo, US$ 1,3 trilhão por ano para enfrentar as mudanças climáticas de forma mais robusta.
O Brasil, por exemplo, poderia se beneficiar desse financiamento para projetos relacionados à preservação da Amazônia e à transição energética. Mas a falta de clareza sobre como esses recursos serão distribuídos e quem, de fato, será responsável por eles, deixou algumas dúvidas no ar.
Além disso, o documento final não responsabiliza diretamente os países desenvolvidos pelo financiamento climático nem garante que esses recursos sejam exclusivamente públicos, o que pode dispersar tanto as fontes quanto as responsabilidades.
Fim da COP29: o que ainda não foi definido?
Como em outras edições da COP, alguns temas importantes ficaram para depois:
Combustíveis fósseis
O documento final da COP29 não trouxe compromissos firmes para reduzir o uso de petróleo, gás e carvão. Muitos países dependem economicamente desses recursos, e isso ainda é uma barreira nas negociações.
Questões de financiamento
Embora os US$ 300 bilhões anuais sejam um avanço, não ficou claro de onde virá esse dinheiro. Parte pode ser levantada por meio de empréstimos, o que preocupa países em desenvolvimento, já que pode aumentar suas dívidas.
Problemas de governança
Decisões na COP exigem consenso entre todos os países, o que torna as negociações lentas e difíceis. Esse modelo foi, novamente, criticado, já que temas urgentes acabam sendo adiados.
Essas lacunas colocam pressão sobre a próxima conferência, a COP30, que será realizada no Brasil, em Belém do Pará, em 2025.
O que as empresas podem aprender com a COP29?
Se tem algo que a COP29 deixou claro é que o mundo está caminhando, mesmo que aos poucos, para uma economia de baixo carbono. Isso significa que as empresas têm uma grande oportunidade de liderar essa mudança – e colher os frutos disso.
Os resultados da COP29 sugerem apostar nas seguintes movimentos:
Apostar no mercado de carbono
Com as regras do mercado global ajustadas, as empresas podem:
Investir em projetos de descarbonização, como geração de energia limpa, para gerar créditos de carbono;
Comprar créditos para compensar suas emissões e melhorar sua imagem perante consumidores e investidores.
No Brasil, as novas regulamentações podem impulsionar projetos ligados à preservação da Amazônia. Isso cria um mercado promissor para empresas que já estão de olho na sustentabilidade.
Aproveitar oportunidades de financiamento
O novo pacto climático abre espaço para empresas que atuam em áreas como:
Transição energética (trocar combustíveis fósseis por energia solar, eólica ou outras fontes renováveis);
Soluções para adaptação climática, como tecnologias que ajudam a lidar com eventos climáticos extremos.
Além disso, empresas que colaboram com comunidades locais em projetos sustentáveis têm mais chances de atrair recursos, já que a COP29 reforçou a importância de beneficiar as populações diretamente envolvidas.
Buscar vantagem competitiva
Adotar práticas sustentáveis não é mais só uma questão de responsabilidade ambiental; é uma estratégia de negócio. Empresas que lideram nessa transição:
Conquistam a confiança de consumidores que buscam marcas alinhadas com seus valores;
Chamam a atenção de investidores que priorizam critérios ESG (ambientais, sociais e de governança);
Estão melhor preparadas para cumprir exigências futuras, como regulações mais rígidas sobre emissões.
E os próximos passos? De olho na COP30 no Brasil
A COP30, marcada para 2025 em Belém do Pará, será um momento decisivo para os países envolvidos na questão climática. Com a Amazônia como pano de fundo, o Brasil terá a oportunidade de liderar as discussões sobre preservação florestal, financiamento climático e redução de emissões.
A conferência também deve trazer ainda mais visibilidade para temas como:
A importância da Amazônia para o equilíbrio climático global;
Soluções naturais para combater as mudanças climáticas, como projetos de reflorestamento;
Financiamento para países em desenvolvimento enfrentarem os desafios climáticos.
Para as empresas, a COP30 será uma oportunidade de mostrar que estão à frente no compromisso com a sustentabilidade.
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As mudanças climáticas estão moldando o futuro dos negócios, e se preparar desde já é essencial.
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