O preço do carbono como mecanismo para redução de emissões
Updated: Oct 4
Os mercados de carbono são frequentemente apresentados como uma solução chave para reduzir a emissão de gases de efeito estufa. No entanto, ao contrário da percepção popular, esses mercados, por si só, não reduzem diretamente as emissões. Na realidade, é o preço do carbono o grande mecanismo para redução.
Vamos entender melhor sobre o assunto a seguir.
O Papel dos Mercados de Carbono
Os mercados de carbono surgem como um dos principais mecanismos econômicos para precificar as emissões, junto com a tributação direta. O objetivo é criar incentivos financeiros para que empresas e consumidores optem por alternativas com menor impacto ambiental. Quando as emissões têm um preço, produtos e processos mais limpos, se tornam mais acessíveis, e as decisões empresariais começam a priorizar investimentos com menor pegada de carbono.
Nos mercados de carbono regulados, quem efetivamente reduz as emissões não é o mercado em si, mas o órgão regulador que define limites de emissões para os setores participantes. Com o tempo, esses limites são reduzidos, criando uma escassez planejada das permissões de emissão – os chamados "direitos de poluir". Com menos permissões disponíveis, o preço sobe, incentivando empresas a adotar práticas mais limpas para evitar custos elevados.
Já nos mercados voluntários, as pressões vêm de investidores, consumidores e da sociedade. Nesse contexto, as empresas podem comprar créditos de carbono para compensar suas emissões. Contudo, sem um regulador que imponha limites rígidos, esse mercado pode, em um primeiro momento, permitir que empresas adiem ações efetivas de transição energética. Com o aumento da demanda por créditos de carbono e a redução de sua oferta, espera-se que o preço desses créditos suba, estimulando, eventualmente, investimentos mais sustentáveis.
Créditos de carbono como parte da solução
Os créditos de carbono oferecem uma solução prática e necessária para empresas que estão em fase de transição para uma economia de baixo carbono. Eles permitem que as empresas compensem suas emissões de maneira financeiramente viável, enquanto avançam em direção a práticas mais sustentáveis. Além disso, no processo para aquisição dos créditos, um dos pontos é identificar as principais fontes de emissões, criando uma base para que as empresas desenvolvam planos eficazes de redução e mitigação.
Outro ponto importante: os créditos de carbono podem ser utilizados para compensar emissões residuais, ou seja, aquelas que são tecnicamente impossíveis de eliminar completamente. Assim, se tornam uma ferramenta valiosa no processo de descarbonização, especialmente para setores com desafios estruturais para zerar emissões a curto prazo.
No entanto, é fundamental entender que os créditos de carbono não devem ser a única solução. O uso ideal envolve uma combinação com estratégias sustentáveis de longo prazo para redução de emissões de gases de efeito estufa. Aqui é possível considerar soluções como o software da Descarbonize, que auxilia empresas no cálculo de emissões e no planejamento e implementações de ações para reduzir a pegada de carbono a longo prazo, além de oferecer compensação via aquisição de créditos de carbono para compensar o que ainda não pode ser eliminado.
A Questão dos Mercados de Soma Zero
A dinâmica dos mercados de carbono funciona como um sistema essencial de soma zero: quando uma empresa reduz ou compensa suas emissões de carbono, outra empresa pode emitir a mesma quantidade.A dinâmica dos mercados de carbono é essencialmente de soma zero: para cada tonelada de carbono que deixa de ser emitida por uma parte, outra é emitida por outra. quando uma empresa reduz ou compensa suas emissões de carbono, outra empresa pode emitir a mesma quantidade. Isso significa que, no cenário atual, os mercados de carbono não alteram diretamente a concentração total de gases de efeito estufa na atmosfera. O principal benefício é econômico, pois esses mercados permitem que a transição para práticas mais limpas ocorra de forma mais eficiente e com menor custo, ao distribuir as responsabilidades de forma equilibrada.
Um ponto crítico é a interconexão entre mercados voluntários e regulados. Quando os créditos de carbono de mercados voluntários são aceitos nos mercados regulados, o regulador perde parte do controle sobre o preço do carbono, dificultando o ajuste necessário para induzir uma transição efetiva. Empresas podem optar por comprar créditos de carbono ao invés de investir em processos mais limpos, o que compromete os esforços globais de redução de emissões.
Conclusão
Os mercados de carbono têm um papel importante na mitigação dos impactos econômicos da transição para uma economia de baixo carbono. No entanto, sem regulação adequada e com a possibilidade de "terceirizar" a redução de emissões por meio de créditos de carbono, corremos o risco de adiar ações mais profundas e necessárias para alcançar metas como o net zero.
Governos, reguladores e consumidores precisam estar atentos ao uso desse mecanismo e garantir que ele seja apenas uma parte de uma estratégia mais ampla e eficaz de combate às mudanças climáticas.
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Referência: Este post foi criado com base no artigo publicado por Caroline Dihl Prolo e Shigueo Watanabe Jr. no Capital Reset.